quarta-feira, 11 de abril de 2012

  Rubens Barbosa de Camargo - entrevista


Muito tem se falado na desvalorização da profissão de professor e da falta de atratividade da carreira docente. Mas o que fazer para reverter esse quadro? Rubens Barbosa de Camargo, especialista em gestão de sistemas e escolas, análise de políticas educacionais e financiamento público da Educação e professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), acredita que a solução passa, necessariamente, pela ampliação dos recursos. "O salário tem impacto direto na qualidade", diz. "Salários melhores aumentam a atratividade e a permanência na carreira.
Gente que gosta da profissão, mas a deixou por dinheiro, deve voltar." Com a experiência de ter sido secretário de Educação de dois municípios paulistas, Camargo defende que a determinação de reservar um terço do tempo de trabalho para atividades extraclasse é o maior destaque da chamada Lei do Piso, pois "terá grande impacto na qualidade da Educação e em termos de prestígio profissional".
Nesta conversa com NOVA ESCOLA, ele aborda outros temas importantes e polêmicos, como o próprio piso salarial, as avaliações externas e a qualidade do ensino nas escolas públicas.

Recente pesquisa encomendada pela Fundação Victor Civita revela que os jovens não consideram a carreira docente uma boa opção. Como chegamos a essa situação?

RUBENS BARBOSA DE CAMARGO Basta lembrar alguns aspectos da nossa história. Na praça da República, no centro de São Paulo, foi erguida uma das primeiras escolas do século 20, onde hoje funciona a Secretaria de Estado da Educação. Sua arquitetura é linda e muitos a chamam de Palácio da Educação. Ela possuía auditório e laboratório e oferecia ótimas condições de atendimento aos estudantes. Existiram várias outras unidades como essa em todo o país, que tentavam demonstrar que, com a República, a escola pública de qualidade era a chave para a evolução da nação. Com o processo de industrialização e de forte urbanização, houve uma mudança no padrão de construção. Surgiram os "escolões", às vezes, para 5 mil jovens. Em meados do século passado, a relação aluno/professor e os recursos financeiros aplicados nos sistemas públicos já eram bem menores. Nos anos 1990, chegamos a ter escolas de lata! Em paralelo, os salários se degradaram, à medida que o ensino começou a ser universalizado. Isso se explica porque nunca tivemos um processo de expansão da escola pública pensado como um instrumento de nação, de identidade nacional - como ocorreu nos países desenvolvidos (Inglaterra, França e outros) e também em vizinhos (Argentina e Chile), que conseguiram manter o padrão de atendimento mesmo com muito mais estudantes incorporados ao sistema.

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